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REQUIEM POR UM RIO

Carta aberta a:
Sr. Presidente da Câmara Municipal do Sabugal
Associação de Pesca Desportiva de Quadrazais Serviços Florestais da Guarda
Reserva Natural da Serra de Malcata
Todos os pe(s)cadores que o frequentam
O Rio Côa
Acabo de visitar o website oficial da Câmara Municipal do Sabugal e li as seguintes palavras:
"The presence of the River Côa is not a source of beauty alone. It is the ideal place for the practice of sporting and recreational activities, of which trout-fishing comes particularly recommended."
Perdoem-me a falta de tradução, mas a referida página também não apresenta o equivalente na língua materna. Vão lá chamar nomes aos Algarvios...!
Exmos Srs., lamento informar que essa não é a realidade de facto sobre o Rio Côa.
Desde que me dedico à pesca desportiva de trutas (e já lá vão 24 anos...) que calcorreio as margens do Rio Côa entre as Freguesias de Vale de Espinho e Malcata (noutros tempos até à Rapoula do Côa).
É pena que agora não o possa fazer, pois apenas resta uma terça parte desse maravilhoso troço de rio, (que na altura se prolongava até à Rapoula do Côa e que talvez perfizesse cerca de 40Km de rio) local paradisíaco para a pesca das nossas amigas pintonas.
Que não doa a consciência a ninguém pelo facto de a barragem do Sabugal e a poluição impune terem decretado a morte do Alto Côa. Fomos todos nós, uns por indiferença, outros pela ganância outros ainda por incúria, que contribuímos para o actual estado de desgraça em que caiu este tesouro ecológico e turístico que a todos pertencia.
Ou será que ninguém sabia que este troço de rio era sinónimo de um ecossistema - dos mais delicados que possa haver - único em todo o Concelho do Sabugal e só igualado por meia dúzia de cursos de água em todo o País ou mesmo até em toda a Península?
Ainda há dias, na Freguesia de Quadrazais, em conversa com um emigrante que me confessava ter pescado por quase toda a Europa, afirmava ele que este nosso Côa era o melhor rio truteiro de entre todos aqueles que conhecia.
Pois é, mas agora já não há Côa. Ou melhor, resta pouco mais de uma dúzia de quilómetros, uma boa parte deles sob a gestão da Associação de Pesca Desportiva de Quadrazais, a qual não parece estar a fazer uma gestão adequada à presente realidade.
O que resta do Rio Côa ainda poderá vir a ser a "catedral" da pesca à truta no nosso País.

Eis as medidas a tomar:

  1. Eliminar radicalmente as fontes de poluição do rio - melhorar o funcionamento de ETARes, efluentes industriais e esgotos (note-se que existem apenas 4 povoações capazes de poluição a nível de rede de esgotos!)
  2. Conseguir junto da administração central a gestão da totalidade do rio que sobreviveu à barragem do Sabugal (esta foi outra das calamidades ambientais)
  3. Decretar o encerramento da pesca desportiva na totalidade do rio até que a população autóctone se restabeleça e atinja um número considerável de exemplares capazes de fazer face à consequente pressão de pesca.
  4. Estabelecer troços de rio em que apenas se possa praticar a modalidade de pesca com mosca artificial e sem morte.
  5. Nos restantes troços, permitir apenas a captura de um exemplar troféu a cada pescador e em cada dia.
  6. Cobrar uma taxa de licença diária a cada pescador no valor de 400$00 para residentes no concelho e 1.000$00 para os restantes.
  7. Decretar um período hábil para a pesca desportiva compreendido entre 1 de março e 15 de Setembro

Por outro lado, e eu sei que isto fala ao ouvido de muito administrador, falemos em números...
Depois de implementadas com sucesso as medidas referidas, não será muito difícil conseguir uma afluência diária de 45 pescadores (30 residentes + 15 Nacionais e praticando as taxas acima referidas isso resulta numa facturação de cerca de 4.100 contos por temporada.
Se deduzirmos os custos inerentes aos vencimentos anuais de 2 Guardas, manutenção de veículos e custos de repovoamento piscícola e manutenção do rio, é fácil perceber que afinal, o Sabugal sempre teve um tesouro turístico escondido debaixo do nariz.
Pensem nisso... Vão ver que os comerciantes, a população que desfruta do rio e também os peixes vão agradecer...
Ah! Quase me esquecia...!
Deixo aqui o relato de uma jornada de pesca de um possível pescador(a), neste caso uma companheira espanhola, num não menos possível Rio Côa.

Palavras para quê?
José Manuel Maia Lopes
natural de Vale de Espinho
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