Fátima Coelho estreia-se nos trabalhos da selecção nacional

Exemplo de coragem e integração

É uma jogadora que dá nas vistas. Tem uma técnica, uma força e uma velo-
cidade não muito comuns, mesmo em jogadores. Foi chamada pela primera
vez aos trabalhos da selecção nacional, e deu que falar. Mas mais que as
suas capacidades desportivas, Fátima Coelho é um exemplo a seguir pela
coragem de provar que as limitações fisicas não são sinónimo de isolamento.
Gabriela Marujo
gabmarujo@terrasdabeira.com
Fátima Coelho é uma jogadora de futebol que se distingue de todas as outras. "Dotada de uma técnica, de uma força e velocidade que não são muito comuns, falando mesmo no caso de futebol masculino", esta atleta do "Estrelas da Guarda" promete dar muito que falar, mais que não seja pela sua enorme força de vontade em prover que a sua condição de surda-muda não é sinónimo de isolamento. É ela a estrela da equipa, a rapariga que mais golos marca e que ajuda a resolver os encontros. "Não digo que os resolva sozinha, mas 90 por cento do seu rendimento é que transmite aquela confiança a equipa", afirma o presidente do clube, Humberto Barroco. Uma forma de jogar que lhe valeu uma chamada aos trabalhos da selecção nacional de sub 18, que decorreram em Rio Maior na semana passada. Se bem que o dirigente tenha culpas no cartório nesta estreia de Fátima Coelho, que aproveitou a vinda à Guarda do seleccionador nacional, Nuno Cristovão, para o informar dos dotos da futebolista, e do facto de já não poder ser convocada para a selecção distrital devido à sua idade."Como todos os atletas, o chegar à selecção nacional será o topo de qualquer escalão, seja qual for a modalidade, e o que a Fátima nos transmite é a alegria que sente neste momento. Foi uma experiência para ela, daî a sua belíssima prestação nestes três dias de estágio em Rio Maior com as restantes atletas da selecção", adianta Humberto Barroco.
O Presidente não tem dúvidas de que a atleta é seleccionável, mas diz não
Fátima Coelho
ter certezas de mais chamadas à selecção nacional, "Julgo que a grande dificuldade será mesmo em termos da linguagem, em termos de comunicação, acho que é o único problema que poderemos ter da Fátima não ser chamada, porque em Rio Maior nestes três dias demonstrou que tem capacidade para estar na selecção nacional". "Além do mais", prossegue, "no fim do estágio tive oportunidade de conversar com Nuno Cristovão, e ele disse que esta menina fez coisas lindas neste estágio. Daí depreendo que será sempre uma jogadora seleccionável, mas o facto de ser surda-muda poderá ser um barreira enorme". "penso que há um exemplo na selecção sénior feminina em que há uma menina que é surda, mas a Fátima é um bocadinho diferente apesar de ter um sentido de orientação especial e fora de normal, consegue acompanhar as jogadas, consegues-se perceber em que o árbitro apita ou não, há ali situações que nos encatam e isso dá-nos muita força e aquilo que tenho dito é que tudo farei para levar a Fátima, até pela sua força, pela sua capacidade, e pela menina execelente que ela é, a chegar o mais longe possível", refere ainda a propósito.
Quanto a intégração da atleta no "Estrelas da Guarda", Humberto Barroco assegura ter sido "muito fácil". "Para já temos um conjunto de meninas espectaculares, boas colegas, boas companheiras, e um grupo muito unido, e a partir daí tudo foi fácil", argumenta. Houve, no entanto, outro factor que parmitiu a facilidade de integração. "Temos a irmã a jogar tambem na equipa facilitou bastante as coisas e engraçado que através da Fátima Coelho temos mais uma menina que é muda. Não nos importamos minimamente que tenha estas limitações, têm tido uma entrega estupenda. Também há grande amizade que criámos no grupo. Neste momento não dispensamos essas menimas, fazem parte do nosso grupo, da nossa família, e tudo faremos para que elas continuem a ir o mais longe possível", finaliza o presidente.
Jornal Terras da beira © Artigo extracto da edição do 15 de Abril de 2004
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