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Ultima entrevista ao Presidente da Junta
[12/09/2013 Fonte: Jornal Cinco Quinas]
Alberto Monteiro ©cinco quinas Alberto Monteiro, com 49 anos, presidente da Junta de Freguesia de Valongo do Côa desde 1989, encontra-se a terminar o seu sexto mandato. Nesta entrevista fala sobre as obras realizadas, qual a sua opinião sobre a reforma administrativa, e muito mais.

Cinco Quinas (CQ) – De todos os mandatos que esteve à frente da Junta de Freguesia, quais as obras que destacaria? Quais aquelas que mais o orgulham, enquanto presidente da Junta?

Alberto Monteiro (AM) – Todas as que fiz me orgulham, senão nunca as teria feito. Mas possa salientar o recinto de festas, o polidesportivo, as garagens. O campo de petanque, o trator, com as respetivas alfaias que comprámos para apoiar os agricultores que não têm máquinas. Reparámos quase todas as açudes do rio, construímos um palco e recinto de festas na nossa anexa, Quinta de Cima. Desde o início que nos preocupámos em colocar água, saneamento e eletricidade em Valongo, sendo que as ruas estão também todas calcetadas. Reparámos as fontes, ampliámos o cemitério, limpámos e alargámos caminhos. Recordo que quando entrei para a Junta a ponte nova caiu que dava acesso à aldeia, então fizemos novos caminhos que dessem acesso às freguesias de Vale das Éguas, Ruivós, Bismula e Badamalos. Tivemos de colocar uma ponte provisória no rio e nessa altura começámos logo a fazer obras. Fizemos um caminho para a Ponte Sequeiros, um caminho onde ninguém passava e que conseguimos alcatroar. Fizemos um parque de merendas junto à Ponte de Sequeiros, comprámos umas gaivotas para as pessoas no Verão andarem no rio, reparámos a sede da Junta, a escola está toda mobilidade. Fomos das primeiras aldeias do concelho a ter internet, totalmente gratuita, há nove anos. Tenho a consciência tranquila que fiz tudo o que podia. Se não fiz mais foi porque não podia, pois tudo o que estava ao meu alcance foi feito. Nunca quis que a minha aldeia ficasse atrás de qualquer outra do concelho. Apesar de pequena sempre fiz com que estivesse ao mesmo nível das de maior dimensão.

CQ – Qual a grande prioridade para a freguesia até ao final do mandato?

AM - Eu tenho um projeto em mente que gostaria de concluir, mas não sei se será possível, tendo em conta que a aprovação de documentação no nosso país é tão difícil e demorada. Nós já comprámos o terreno para esse dito projeto, já se encontra vedado, mas se calhar não vou conseguir concluí-lo, mas quem venha a seguir também o poderá concluir.

CQ – O que fica ainda por fazer?

AM - Ainda fica muita coisa. Uma das situações que eu gostava de ver concluída é a estrada que nos liga a Badamalos. O acesso até à Ponte de Sequeiros está alcatroada, mas do outro lado está em terra e eu gostava muito que essa estrada ficasse em condições para puderem circular automóveis em ambos os sentidos. Também não sei se conseguirei, estamos numa altura de crise. Ficam coisas por fazer, mas quem vier a seguir terá também que fazer alguma coisa, pois está muita coisa feita, porém nunca está tudo feito. Outras ideias surgirão, as pessoas não podem estar toda a vida no mesmo local e eu já fiz bem a minha parte, acho que está na altura de outros apresentarem as suas ideias e concretizarem novos projetos.

CQ – Qual a situação financeira da Junta de Freguesia?

AM - Não devemos nada a ninguém. Está tudo pago. O meu lema desde sempre na Junta de Freguesia foi: Fazer conforme se pode. Às vezes arriscar um pouco, mas não muito. Contar sempre com o que temos, porque não é só fazer obras, também é preciso pagá-las. E eu, 99% das vezes que fiz obras sabia onde estava o dinheiro, na Caixa Geral de Depósito, na conta à ordem. Nunca tive nenhum empreiteiro a bater-me à porta a pedir dinheiro da Junta de Freguesia. Para isso, tive sempre a colaboração do tesoureiro e secretário. Tive sempre muita sorte com os companheiros da Junta, entre todos nunca tivemos qualquer desavença e acabávamos por chegar sempre a um consenso.

CQ – Concorda com a lei que limita o número de mandatos possíveis a um presidente de Junta?

AM - Concordo. Não se justifica de maneira nenhuma que lá porque uma pessoa é boa e até faz coisas pela freguesia, esteja lá toda a vida. Eu sempre pensei e disse que tinha um projeto e que acabei por concretizar desde o primeiro dia que foi sempre fazer o melhor que sabia e podia pela minha aldeia, colocá-la sempre à frente das outras, posso até não ter conseguido, mas tentei e sempre fiz os possíveis para que isso acontecesse. Há gente mais nova, não quer dizer que eu seja velho (risos), mas agora com os sistemas informáticos, é preciso despender muito tempo e se há coisa que não tenho é tempo. Estou sempre sobrecarregado de trabalho e o tempo é sempre pouco.

CQ – Se fosse possível, voltaria a recandidatar-se?

AM - Se as pessoas achassem mesmo necessário, se alguma coisa ficasse por fazer e só eu pudesse resolver o assunto, eu voltaria a recandidatar-me, sem problemas. Não sendo assim, há gente mais nova que poderá fazer tão bem ou melhor do que eu fiz e faço.

CQ – Qual é a sua opinião sobre a reforma administrativa ao nível das Juntas de Freguesia?

AM - Eu fiz duas reuniões com o plenário de eleitores da freguesia e posso dizer-lhe que só houve um voto favorável para nos associarmos ao Seixo. Não temos nada contra o Seixo, bem pelo contrário, passo lá todos os dias, dou-me bem com toda a gente e eles comigo, mas na minha opinião esta associação fica aquém das minhas expetativas. Acho que as Juntas de Freguesia deviam acabar, mas era preferível associarmo-nos seis ou sete freguesias, criarmos uma boa equipa, com dois administrativos, com formação, uma para a contabilidade, outro para dar apoio à população da freguesia, principalmente aos idosos que são quem mais precisa. Todas as freguesias têm uma carrinha, a nossa, quando precisamos dela, o que acontece duas ou três vezes por ano, nunca funciona, tal é o uso que lhe damos. Havia necessidade de todas as freguesias terem uma carrinha, um tractor, reboques? Claro que não. Mais valia termos uma retroescavadora entre todas, dois bons tratores, duas pessoas responsáveis por estas freguesias, e que olhassem para os idosos, que passam todo o dia sozinho, mas que ninguém se lembra deles. Com esta proposta de agregação de freguesias tenho medo que as aldeias sejam esquecidas e que tudo aquilo que fizemos ao longo destes anos vá por água abaixo. (pausa) Esperemos que isso não aconteça

CQ – Qual a relação com a Câmara Municipal do Sabugal? Na sua opinião este executivo tem feito um bom trabalho pelo concelho do Sabugal?

AM - Tendo em conta a crise que se faz sentir no nosso país, penso que têm feito um bom trabalho. Quanto à minha relação com a Câmara, esta é ótima. É de conhecimento público que não apoiei este presidente de Câmara nas eleições, pois tive esse compromisso com outro candidato e se fosse hoje teria assumido novamente esse apoio. No entanto, nunca disse mal do presidente da Câmara, acho que é uma boa pessoa, é também verdade que podiam ter sido feitas mais algumas obras, mas as decisões nem sempre dependem apenas dele. Posso dizer que tenho muito boas relações com a Câmara Municipal do Sabugal. Até digo mais, de todos estes mandatos que tive na Junta de Freguesia, apenas num não tive as melhores relações com a Câmara. Penso que não tenho qualquer inimigo na Câmara e dou-me muito bem com todos, seja o presidente de Câmara, vereadores, assessores, funcionários, com toda a gente. Não tenho nada a dizer deles, bem pelo contrário.

CQ – Sabendo que a vida de autarca nem sempre é fácil e nem sempre compreendida, onde fica a família no meio de tudo isto?

AM - A família sempre me apoiou. Neste último mandato já nem me queria candidatar e posso dizer que foi a minha família que me incentivou a fazê-lo. A minha família sempre me apoiou e esteve ao meu lado durante todos estes anos.

CQ – Qual é o balanço que faz de todos estes anos como presidente de Junta?

AM - Faço um balanço positivo, mas não sou eu que me devo avaliar e sim as pessoas da minha aldeia. Sempre tratei todos por igual em Valongo, os que votaram e que não votaram em mim. Ninguém me pode acusar de distinguir seja quem for, bem pelo contrário. O que fiz está feito, o que os outros poderiam ter feito nunca se sabe.

CQ – Qual a marca que gostaria de deixar na Junta de Freguesia? Como gostaria de ser recordado pelos habitantes de Valongo?

AM - AM –(emoção na voz) Pela amizade. Gostaria de pedir desculpa aos habitantes da freguesia por alguma coisa não ter estado tão bem, nem sempre temos dias bons. Quero que saibam que gosto muito da minha aldeia, a aldeia que me viu nascer, a aldeia onde vivo e pretendo continuar a viver, espero não ter que sair daqui, mas nunca se sabe. Gosto muito das pessoas de Valongo (brilho no olhar).

CQ – Quer deixar alguma mensagem aos habitantes da freguesia?

AM - Quero dizer ainda que podem contar sempre comigo, mesmo deixando a Junta, tudo o que precisarem e eu puder fazer continuarei a fazê-lo. Valongo pode associar-se a outras freguesias, mas continua a ser Valongo. Que Valongo continue a ser uma freguesia unida e que se continuem a fazer obras, o grande problema é que há casas a mais e pessoas a menos. Se há pessoas que pensam que alguma vez tirei algum partido por ser presidente de Junta, isso não é verdade. Até perdi alguns negócios na minha actividade por ser presidente de Junta. Nunca tive lucros por estar na Junta, é verdade que recebo a minha compensação, mas mais nada. Nunca gastei um cêntimo de telefone da Junta, nunca tirei fotocópias na Junta, nunca tirei dinheiro para selos e cartas e muito menos para viagens ou almoços. Passei horas na máquina, no trator, e nunca cobrei nada, pois nunca foi essa a minha intenção.

CQ – Sai da Junta de Freguesia com o sentimento de dever cumprido?

AM - Penso que sim, se não é 100% é a 99%. Fiz o melhor que pude e que consegui. Se me disserem que podia ter feito mais…talvez, mas sempre fiz tudo o que estava ao meu alcance, nunca deixei fugir nada que fosse da minha freguesia.

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