Edição de 18-10-2007

Magazine
 

SECÇÃO: Rotas da Região

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Por terras de Riba Côa
Numa paisagem raiana

Olá lugar de Valongo
No meio tem um ribeiro
E ao funda da estrada
Fica a “Ponte de Sequeiros”

A Ponte de Sequeiros
Foi feita pelos romanos
É feita toda em pedra
Em volta amieiros e rosmanos

A linda Ponte de Sequeiros
No fundo tem caracóis
Em tempo já antigos
Ela era dos Espanhóis

In Monografia de Valongo do Côa
José Carlos Vaz Lucas, 1990

Esta referência literária faz parte de um roteiro que não nos pode passar ao lado. Num concelho marcado por uma história que se entrelaça com o viver das gentes da raia, a proposta de descoberta vai ao encontro de uma natural presença em terras de Riba Côa. A diversidade da paisagem, marcada pela reserva da Serra da Malcata, o planalto raiano, o vale do rio Côa e a riqueza histórica, monumental e de património cultural, proporciona-nos motivos únicos para percorrermos alguns caminhos. Ao longo do trajecto, pairam sempre no ar propostas diferentes para se desfrutar de um pedaço de terra que mistura a história passada com presente que se consolida num investimento nas gentes.
A crónica da raia é inseparável da cumplicidade entre os povos de ambos os lados da fronteira. É uma cumplicidade onde o contrabando de afinidades se misturou com o contrabando económico na sombra dos caminhos. As identidades culturais nem sempre foram coincidentes na delimitação de fronteiras mas, desde cedo, a presença humana se assinalou por estas terras. Ao contrário da progressiva desertificação a que se assiste nos dias de hoje, a história do concelho está documentada em vestígios arqueológicos que vão desde a Idade do Ferro até à Idade Média como, por exemplo, na estação arqueológica do Sabugal Velho. Mesmo depois da ocupação romana e cristã continuaram a ser edificadas obras que ainda hoje permanecem no concelho: pontes, vias romanas, igrejas e outros exemplos de arquitectura.
Dotado de uma linha de castelos invejável (Sabugal, Sortelha, Vilar Maior, Vila do Touro e Alfaiates), o concelho do Sabugal permite ao visitante um constante olhar pela História nacional.
Para início de trajecto, fica a sugestão de um passeio pedestre pela cidade. Com um esforço de recuperação do património arquitectónico, sentimos alguns momentos de tranquilidade nas visitas que podemos fazer logo a partir das margens do rio Côa. O castelo das cinco quinas é um verdadeiro ícone, mas a proposta não se esgota aqui. Todo o centro histórico merece uma atenção; para além da arquitectura popular existem alguns pólos de interesse ora em casas solarengas do séc. XVII (casas da câmara, tribunal e cadeia) ora no património contemporâneo como, por exemplo o Museu e as zonas de lazer. Para o road book propomos dois percursos. Um deles tem início em Vila do Touro e termina junto do castelo de Vilar Maior. Atravessa uma diversidade de paisagem por entre horizontes ora planos ora mais sinuosos sempre com o rio Côa a acompanhar. O outro, permite uma visita à histórica Sortelha num acesso diferente através de uma calçada secular.
Dirija-se, então, até Vila do Touro. Antes de começar o trilho, pode visitar uma fortificação que data do séc. XIII e nunca acabada. Este percurso não oferece grandes dificuldades a menos que o realize em pleno Inverno e exista um elevado caudal de água que o impeça de atravessar os dois cursos de água existentes. Caso isso aconteça, é fácil contornar uma vez que existem alternativas por asfalto sempre com a E.N. 324 a servir de opção. Coloque a “zero” junto ao largo da Igreja e siga as instruções. A seguir a Valongo, é tempo de rumar à Ponte de Sequeiros. A sua arquitectura é de estilo Românico. Esta representa um exemplar bem conservado de uma ponte fortificada sobre o rio Côa por entre penedias. A sua construção provável data do séc. XIII constituindo um marco de fronteira antes da incorporação das terras de Riba Côa no território português. Alicerçada por três arcos, apresenta torres de planta quadrada em ambos os lados e pavimento com lajes. O percurso termina em Vilar Maior. A chegada à aldeia faz-se por um empedrado que oferece uma observação privilegiada do castelo. O perfil deste castelo é típico de zonas com relevo acentuado oferecendo ao visitante uma paisagem que se estende da fronteira até à cidade da Guarda. A sua construção é atribuída a D. Afonso IX de Leão, passando a fazer parte do território em 1297, aquando do Tratado de Alcanizes. De estilo Românico – gótico, tem traçado oval irregular com Torre de Menagem de planta quadrada.
O segundo percurso é um pouco mais “incómodo”, porque se trata da subida de uma calçada que o vai transportar a Sortelha. Apenas precisa de ter alguma paciência na subida e deixar trabalhar a mecânica porque este tempo passado a subir vai ser compensado com a chegada à localidade. O início do percurso fica na estrada que liga Sortelha a Belmonte, do lado esquerdo um pouco mais abaixo do cruzamento para a Bendada e junto a uma cerca de uma quinta. O castelo de Sortelha mostra um conjunto de estilos que traduzem o evoluir da história da localidade.
Trata-se de um castelo com características Românicas mas com traços Góticos e uma com intervenção Manuelina. Todo o perímetro urbano, de traçado oval irregular, está muito bem recuperado tratando-se de uma verdadeira pérola da arquitectura. O castelo tem quatro portas, tendo todas elas pormenores de interesse arquitectónico. O castelo situa-se num cabeço granítico sendo inacessível pela encosta Sul. Aponta-se a data de 1228 para a sua edificação tendo Sortelha sido elevada a um estatuto de destaque do condado durante o reinado de D. João III.
As tradições populares do concelho do Sabugal são um exemplo do desenvolvimento cultural do povo. Entre as diferentes celebrações ao longo do ano, existem duas que permanecem imutáveis ao longo dos tempos: a capeia e o encerro. Esta é uma forma diferente da arte de tourear, se assim se pode chamar, que expressa o sentir num todo colectivo em que um grupo de homens usa o forcão. Os touros são conduzidos através dos campos com homens a cavalo que os levam até ao centro de cada localidade onde os desafios entre Homem e animal se desenham com contornos únicos. E não abalamos sem antes darmos uma volta pela mesa gastronómica do concelho. Espelho das tradições, os pratos retratam o dia a dia. Na ementa com pratos de caça (javali, perdiz, coelho bravo, lebre) cabrito assado, trutas do rio Côa e enchidos. Para sobremesa, sugerimos o bolo dos santos, o bolo pardo, as castanhas, os coscoréis e o queijo de cabra.
Estas são só duas propostas de passar pelo concelho Sabugal que representa uma experiência partilhada entre o passado histórico e a cumplicidade de identidades culturais entre os povos peninsulares. A não perder.


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